Câmara dos Deputados Câmara dos Dep...
Políticas públicas para superar crise humanitária dos Yanomami não chegam às aldeias, dizem líderes indígenas
Segundo as lideranças, todas as instâncias de governo têm falhado em garantir acesso a água potável, educação e saúde
09/07/2024 14h58
Por: admin Fonte: Agência Câmara

Lideranças indígenas destacaram que as políticas públicas para superar a crise humanitária dos Yanomami na região Norte do País não têm chegado às aldeias. Eles foram ouvidos, nesta terça-feira (9), na comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha a crise humanitária dos Yanomami.

Continua após a publicidade

Os Yanomami têm enfrentado problemas como a desnutrição e a invasão de garimpeiros ilegais em seu território, o que resulta em conflitos, destruição do meio ambiente e disseminação de doenças.

Representante da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes, Beto Goés foi um dos líderes que reclamou que as políticas públicas não chegam às aldeias. Ele chamou a atenção para a ineficiência do Estado brasileiro em cuidar do povo Yanomami nos estados do Amazonas e Roraima, independentemente do governo.

“O governo federal tem cuidado sim, tem feito sim pelo povo Yanomami, só que não chega, não se vê, essa realidade é triste para o meu povo”, disse. “Sabemos que este governo injetou verba federal para a saúde Yanomami, cadê o resultado, principalmente em Roraima?” questionou.

Responsabilidade compartilhada
Beto Goés lembrou que, a despeito do investimento federal, em 2023 o Ministério da Saúde registrou 363 mortes de indígenas em território Yanomami, crescimento de quase 6% em relação ao ano anterior, quando foram registrados 343 óbitos. A Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) alega subnotificação em 2022.

“Culpa de quem?”, questionou o líder Yanomami. “É do governo federal sim, claro, do governo estadual também, do município também.” Ele destacou ainda que o governo retirou garimpeiros ilegais da região, mas invasores de facções criminosas ainda estão lá.

Invasores
Representante da Associação Texoli Ninam, de Roraima, Gerson Ninam também manifestou preocupação com a presença de invasores de facções criminosas nas terras indígenas do estado. Ele pediu aumento da segurança e da presença da Polícia Federal. Ainda de acordo com o líder indígena, os povos da região enfrentam sobretudo a malária. Segundo ele, faltam remédios na Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) e falta também água potável.

Secretário da Associação Xoromawe Indígena, Rui Leno, de Barcelos (AM), também alertou que a situação dos Yanomami está bem ruim no município. “O que a gente precisa que seja feito aqui em Barcelos? É que cada instituição faça um pouquinho da sua parte: que o cenário municipal faça sua parte, que o cenário federal faça a sua parte, que o cenário estadual faça a sua parte" cobrou. "Nós juntos, cada um fazendo um pouquinho, a gente consegue fazer chegar o básico: o acesso à água potável, o acesso à educação, o acesso à saúde”, listou o líder indígena.

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Célia Xakriabá cobrou educação das crianças indígenas

Educação indígena
A deputada Célia Xakriabá (Psol-MG) lembrou que a educação escolar indígena é responsabilidade estadual, sob a coordenação do Ministério da Educação, mas disse que os municípios também precisam se comprometer. O acesso à educação escolar indígena, para ela, é questão emergencial. “Já imaginou se as meninas que foram violentadas pelo garimpo estivessem na escola? Talvez não tivessem sido estupradas."

A parlamentar destacou o papel da alimentação escolar para a nutrição das crianças indígenas e defendeu que essa refeição seja adaptada aos costumes dos povos e que seja passível de ser compartilhada, conforme a tradição indígena. Ela defendeu ainda a destinação de mais emendas orçamentárias parlamentares para os indígenas da região, por conta da crise humanitária.

A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP), que foi secretária de saúde indígena do governo Bolsonaro, criticou, por sua vez, o isolamento dos indígenas, que, para ela, prejudica o acesso à educação e à ciência e tecnologia.

Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Silvia Waiãpi criticou o isolamento dos povos indígenas

Visita às aldeias
O deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP) sugeriu o diálogo da comissão externa com a subcomissão especial criada na Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais também para tratar da crise Yanomami.

Ele pediu ainda a participação dos integrantes da subcomissão na visita que a comissão externa fará aos territórios Yanomami na região Norte. Presidente da comissão externa, a deputada Coronel Fernanda (PL-MT) afirmou que vai colocar o requerimento em votação no colegiado.

A visita da comissão aos territórios Yanomami de Roraima e do Amazonas ocorrerá depois do período eleitoral, de 4 a 14 de novembro.

Antes disso, no dia 13 de agosto, a comissão externa realizará a última audiência pública prevista, com representantes da Sesai, e dos ministérios da Educação, da Justiça e dos Povos Indígenas.

No debate de hoje, também estava prevista a participação on-line de nove outros líderes indígenas, mas a maior parte não conseguiu obter acesso à internet para participar.