No sertão do Piauí, o Quilombo Custaneira Tronco, localizado no município de Paquetá, resiste com força e beleza. É ali, entre as raízes profundas da ancestralidade e os ritos que atravessam gerações, que pulsa viva a tradição do Lundu de Lezeira, manifestação cultural que agora é reconhecida oficialmente como Patrimônio Vivo do Estado do Piauí, por meio do Chamamento Mestre Herondino.
Essa conquista representa a valorização de uma história construída com fé, resistência e coletividade. A partir de agora, o Lundu de Lezeira da Custaneira passa a receber um incentivo financeiro mensal da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), que visa estimular e proteger iniciativas que contribuam para o desenvolvimento sociocultural e profissional dos mestres e grupos de tradição popular. O objetivo é garantir que os saberes não se percam e possam ser transmitidos às futuras gerações.
No último final de semana, a comunidade recebeu a visita do secretário da Cultura, Rodrigo Amorim, que esteve no quilombo celebrando a conquista e acompanhando de perto outras ações que estão sendo desenvolvidas. O Quilombo Custaneira também foi contemplado no edital de Ocupação e Ações Continuadas da PNAB Piauí. Ao lado de Dona Rita da Custaneira, que também é Patrimônio Vivo do Estado, o secretário destacou a importância da presença e do apoio do poder público nesses territórios.
“Estou muito feliz de poder ver de perto esse local, me honra bastante estar ao lado desses patrimônios vivos, que têm feito um grande trabalho de disseminar os saberes e a cultura. É isso que temos que fazer: levar a cultura ao máximo de lugares possíveis, com sensibilidade. E continuaremos trabalhando para fazer com que essas histórias permaneçam sempre vivas”, afirmou o gestor.
Formado por 45 famílias descendentes de escravizados que se refugiaram naquela região, o Quilombo Custaneira Tronco é um verdadeiro santuário da cultura popular. No centro dessa espiritualidade está a Casa de Guerreiro Caboclo de Oxóssi, terreiro de religião de matriz africana que sustenta a base cultural e espiritual da comunidade.
Segundo o Pai Naldo, liderança do quilombo, uma das secretarias mais necessárias é a da Cultura. “Um povo sem cultura é um povo sem identidade. Aqui nós sabemos quem somos, onde estamos e para onde queremos ir”, afirma.
A região abriga também outras comunidades de forte identidade quilombola, como é o caso do Quilombo Canabrava dos Amaros, onde vive a Mãe Maria, outra guardiã da tradição e Patrimônio Vivo do Piauí.