No bairro Monte Castelo, zona Sul de Teresina, funciona um espaço onde o olhar sobre a educação é ampliado todos os dias. O Centro de Apoio Pedagógico a Pessoas com Deficiência Visual (CAP) é referência no atendimento educacional especializado no Piauí, garantindo não só o ensino do sistema Braille, mas também apoio multidisciplinar essencial para crianças, jovens e adultos com cegueira ou baixa visão.
Maria Amália, de apenas oito anos, é um desses exemplos de transformação. Aluna do ensino regular e destaque nas disciplinas de matemática e linguagens, ela encontrou no CAP um complemento indispensável para o próprio desenvolvimento. Para o pai, Valdenir Arrais, a mudança foi visível. “Estamos aqui há quatro anos, metade da vida dela. Antes, Amália era mais reclusa. Depois que começou a frequentar o CAP, passou a interagir mais e teve uma grande melhora na escola”, conta.
Amália frequenta o CAP uma vez por semana, direto após a escola. Lá, ela aprende o sistema Braille, participa de sessões de fonoaudiologia, musicoterapia e ainda tem aulas de Soroban, instrumento que auxilia no ensino da matemática.
Assim como ela, outras 41 pessoas são atendidas atualmente no CAP. O centro oferece não apenas o ensino do Braille, mas também informática acessível, orientação e mobilidade, educação física adaptada, práticas de vida independente e atividades para o fortalecimento da autoestima e autonomia. A formação vai além do conteúdo: trabalha habilidades que acompanham o estudante para além da escola.
“Nossa missão é habilitar e reabilitar pessoas com deficiência visual, eliminando barreiras que dificultam o aprendizado. Contamos com uma equipe multiprofissional, com psicólogos, educadores físicos, fonoaudiólogos, músicos e psicopedagogos”, explica o professor Aristóteles Menezes, mestre em deficiência visual e um dos docentes do CAP.
Para o secretário de Estado da Educação, Washington Bandeira, o trabalho desenvolvido no centro simboliza o compromisso do Governo com a inclusão. “O CAP é o principal espaço de suporte educacional para pessoas com deficiência visual no estado. Aqui, o atendimento especializado garante acesso à educação com dignidade, devolve esses estudantes à sala de aula e valoriza suas potencialidades”, afirma.
Histórias que inspiram
Marcelo Batista, de 27 anos, frequenta o CAP desde os sete. Diagnosticado com microcefalia e transtorno do espectro autista (TEA), ele é presença constante na sala de musicoterapia — espaço que ajuda a desenvolver suas habilidades motoras e emocionais. E, claro, é onde ele cultiva uma das maiores paixões: a música.
“Música é com ele mesmo. Ama Roberto Carlos. Quando escuta, já reconhece na hora”, conta, sorrindo, a mãe, Gersonita Batista.
Histórias como a de Marcelo se repetem nos corredores do centro. Rosane Dias, mãe de Maurício Júnior, também compartilha a alegria ao ver o filho progredir. “Aqui, ele tem acompanhamento com fonoaudióloga, psicóloga e faz musicoterapia. Foi aqui que ele aprendeu a ler e escrever o próprio nome. Ver isso acontecer é uma felicidade que não dá para explicar”, diz, emocionada.
Educação inclusiva é política pública
O trabalho do CAP faz parte do Programa de Educação Especial Inclusiva, uma iniciativa da Seduc em parceria com a Secretaria de Estado para a Inclusão da Pessoa com Deficiência (Seid). A proposta é garantir acesso, permanência e aprendizagem aos estudantes com deficiência, transtornos do espectro autista ou altas habilidades.
Por meio do programa, o Estado tem ampliado salas de Atendimento Educacional Especializado (AEE), reformado centros de atendimento e investido na formação contínua dos profissionais da área.
Braille: 200 anos de inclusão
No último dia 8 de abril, o Brasil celebrou o Dia Nacional do Sistema Braille — data que marca o nascimento de José Alvares de Azevedo, primeiro professor cego do país. Criado por Louis Braille, em 1824, o sistema ainda é, segundo o professor Aristóteles, um dos maiores marcos da humanidade em favor da inclusão.
“O Braille não é uma língua, é uma linguagem. É por meio dele que as pessoas com deficiência visual têm acesso à leitura, à escrita e à informação. Mesmo após 200 anos, ainda é uma das maiores conquistas da educação inclusiva”, ressalta.
Baseado em sinais em alto relevo, o Braille foi inspirado em um código de comunicação usado pelo exército de Napoleão. Com ele, milhões de pessoas ao redor do mundo passaram a decifrar palavras, escrever histórias e, principalmente, enxergar possibilidades.