O carioca Marcelo do Carmo, de 46 anos, nem consegue disfarçar a emoção ao fazer um balanço dos últimos seis meses, desde que a pandemia da covid-19 fez a primeira vítima no Brasil.
Graduado em gestão hospitalar, porém sem exercer a profissão, ele trabalhou nos últimos anos como pintor de casas em uma empresa de reformas ou, então, fazendo serviços por conta própria. Ele morava de aluguel com a esposa e a filha adolescente em um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, e as contas estavam sempre sob controle. Até que o novo coronavírus fez os clientes sumirem e a vida virou pelo avesso.
Mesmo com o diploma de ensino superior, ele não conseguiu um emprego novo.
"De uma hora para outra, tive uma queda de 90% da renda. Começamos a atrasar o aluguel, até que o senhorio pediu a casa de volta. O casamento acabou junto com o dinheiro. Minha esposa voltou para a casa dos pais, em outra cidade, e levou a minha filha. Não nos vemos há quase dois meses."
Sem conseguir se sustentar, ele acabou precisando morar em um quarto nos fundos de um galpão e, agora, conta com a ajuda de amigos para fazer bicos como pintor e tenta juntar dinheiro para alugar uma nova casa.
"Eu acabei caindo em uma espécie de fosso. Minha renda dos últimos anos era alta demais para receber algum auxílio e os serviços de pintura não voltaram. Às vezes, parece que a gente ficou invisível", conta ele.
Tentando não desanimar, Carmo agora tenta recomeçar. "Era de uma família de classe média e as coisas pioraram subitamente. Caí na pobreza extrema, pois tudo mudou e não pude manter o padrão de vida que tinha. Mas ainda acredito em um recomeço."