O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alegou que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro teria condicionado a nomeação de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal (PF) à própria indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A quatro dias do fim do prazo judicial, o mandatário da República prestou depoimento à PF, no inquérito que apura suposta intervenção política na corporação.
A oitiva foi realizada na noite desta quarta-feira (3/11), em Brasília. O depoimento ocorreu após determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. O prazo era de 30 dias e terminava em 7 de novembro.
Segundo o depoimento, ao qual o Metrópoles teve acesso, Bolsonaro disse que, “ao indicar o DPF Ramagem ao ex-ministro Sergio Moro, este teria concordado com o presidente, desde que ocorresse após a indicação do ex-ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal”.
O chefe do Executivo nacional relatou também ter pedido, em meados de 2019, a troca do diretor-geral da corporação, à época Maurício Valeixo, por “falta de interlocução” entre os dois.
A investigação começou após o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro apontar que o mandatário o pressionava para substituir Valeixo, além da coordenação da Polícia Federal no Rio de Janeiro — reduto eleitoral de Bolsonaro.
Segundo Moro, o presidente queria um aliado e exigia acesso a relatórios sigilosos da corporação. O caso foi motivo de crise e ocasionou o pedido de demissão do então ministro da Justiça, em abril de 2020.
Agora, a Polícia Federal deverá remeter o inquérito ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem cabe decidir sobre eventual denúncia contra o titular do Palácio do Planalto.
“Não troco princípios por cargos”
Em nota, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Morro contestou o depoimento de Bolsonaro e afirmou que não troca “princípios por cargos”. Leia a nota na íntegra:
“Sobre o depoimento do Presidente da República no inquérito que apura interferência política na Polícia Federal, destaco que jamais condicionei eventual troca no comando da PF à indicação ao STF. Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como Ministro. Aliás, nem os próprios Ministros do Governo ouvidos no inquérito confirmaram essa versão apresentada pelo Presidente da República. Quanto aos motivos reais da troca, eles foram expostos pelo próprio Presidente na reunião ministerial de 22 de abril de 2020 para que todos ouvissem. Também considero impróprio que o Presidente tenha sido ouvido sem que meus advogados fossem avisados e pudessem fazer perguntas”.