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Banco Central terá que subir mais os juros para segurar inflação

Após IPCA bater recorde em outubro, analistas apostam em alta de até 2 pontos percentuais na Selic em dezembro

12/11/2021 às 08h05
Por: admin Fonte: As informações do Correio Braziliense
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Banco Central tem dificuldades de ancorar expectativas (Foto: Divulgação)
Banco Central tem dificuldades de ancorar expectativas (Foto: Divulgação)

Após voltar ao patamar de dois dígitos, a inflação ameaça não dar trégua no próximo ano, mesmo com a continuidade da alta dos juros. Para analistas, a inércia inflacionária será forte em 2022. Com isso, haverá reajustes de custos e de salários, assim como repasses para os preços ao consumidor, pelo fato de a economia ser ainda bastante indexada por conta da herança inflacionária.

Na avaliação de especialistas, o Banco Central precisará acelerar o ritmo de alta de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, porque está sozinho na tarefa de controlar a inflação, uma vez que o governo vem afrouxando as regras fiscais para agradar ao Centrão e manter a governabilidade.

A alta da Selic terá que ser maior do que 1,5 ponto percentual, como foi sinalizado na última reunião do Copom, se o BC quiser entregar a inflação abaixo do teto da meta em 2022, de 5%, e, assim, evitar dois anos seguidos de descumprimento da regra.

Diante da surpresa com o aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, que acumulou alta de 10,67% em 12 meses, um consenso em formação no mercado é de que o indicador encerrará o ano em torno de 10%, ou mesmo acima disso, quase o dobro do teto da meta deste ano, de 5,25%. Com isso, novas apostas de analistas para o próximo Copom indicam alta de 1,75 ponto a 2,0 pontos percentuais na taxa básica da economia, atualmente em 7,75% ao ano.

"O Banco Central deixou a Selic em 2% por muito tempo com o argumento de que a inflação era transitória. Agora, será preciso um choque maior na política monetária para tentar trazer a inflação de volta para a meta", destacou o economista e professor do Insper João Luiz Mascolo. Para o acadêmico, não adianta o governo culpar os combustíveis pela inflação mais forte, porque ele é parte do problema. "Os fundamentos macroeconômicos estão muito ruins. E a política monetária está atrasada e sozinha. O BC não poderá contar com ajuda de política fiscal no combate à inflação", lamentou.

Segundo as estimativas de Mascolo, a Selic deverá chegar a 11,5% no fim do atual ciclo de ajuste monetário, iniciado em março, que precisaria terminar antes das eleições, para não atrapalhar a campanha eleitoral. No entanto, para o economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, Eduardo Velho, o BC precisará mudar a estratégia se realmente pretende ancorar as expectativas do mercado, e dar um verdadeiro choque de política monetária para trazer a inflação para a meta, e uma taxa de 12% ao ano será o piso em 2022, por conta da inércia. "A inflação vai piorar mesmo se os juros chegarem a 12% ao ano. Pelas nossas projeções, se o Copom elevar a taxa básica até esse patamar, no início do ano que vem, o IPCA ainda ficará acima do teto da meta, entre 5,9% e 6%", alertou. Ele lembrou que, ao contrário dos outros países, o Brasil tem um histórico de inércia e persistência inflacionária que não permite ao país ter uma meta de inflação como a das economias desenvolvidas, de 2% a 3% ao ano.

"A inércia faz com que a tendência de reajustes dos preços com base na inflação do ano anterior aumente as pressões inflacionárias. Agora, com a surpresa inflacionária do IPCA de outubro, será preciso um choque monetário acima do que o mercado espera para ajudar a ancorar as expectativas", avaliou Velho. Para ele, isso significaria uma alta da Selic, em dezembro, de três pontos percentuais, ou seja, de 7,75% para 10,75%, pois a inflação de serviços está voltando forte, "mesmo com a demanda fraca".

"A melhor saída seria um choque fiscal restritivo, mas, como com a aprovação ou não da PEC dos Precatórios, o teto de gastos será descumprido. O Banco Central precisará mudar a estratégia e desistir do ajuste gradual na política monetária. "O BC está em uma encruzilhada. Ou faz um ajuste rápido ou segue o gradual, e, com isso, tem o risco de continuar tentando ajustar a política monetária sem ajuste fiscal", frisou.

Mascolo, do Insper, não descartou a chance de retração da economia no ano que vem, pois independentemente do tamanho do aperto monetário e da duração do ciclo, a conjuntura econômica no primeiro trimestre de 2022 será muito ruim, devido aos efeitos da alta dos juros na economia. "Há um intervalo de seis meses de defasagem da política monetária na atividade econômica. Como ela começou em março, o efeito começou a ocorrer em setembro, mas vai se prolongar e no primeiro trimestre de 2022 e esse impacto será mais doloroso", destacou.

 

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