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Bolsonaro avalia demitir Mandetta do Ministério da Saúde

Em embate com o presidente, Mandetta lidera ações do governo federal no combate à pandemia do coronavírus

06/04/2020 às 17h56
Por: admin Fonte: Folha
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Bolsonaro
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O presidente Jair Bolsonaro avalia demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e considera substituí-lo por um nome que seja defensor da utilização da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com coronavírus.

Nesta seg​unda-feira (6), o presidente almoçou com os ministros palacianos e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), cotado para o lugar de Mandetta. Segundo assessores presidenciais, o parlamentar, ex-ministro da Cidadania, tem ajudado o presidente a encontrar um nome de peso para o posto que reduza o desgaste público de uma eventual saída do atual ministro.

Bolsonaro convocou uma reunião com todos os seus ministros às 17h desta segunda no Planalto. A expectativa é que Mandetta esteja presente. Assessores do presidente dizem que ele está disposto a demitir o auxiliar, mas que ainda está decidindo se fará isso nas próximas horas ou mais adiante.

Nos últimos dias, Bolsonaro tem se estranhando com Mandetta e chegou a afirmar que falta humildade ao seu auxiliar e que ele extrapolou.

O presidente tem divergido, entre outras coisas, das medidas de isolamento social defendidas por Mandetta para combater a pandemia do coronavírus. Bolsonaro adotou um discurso contrário ao fechamento de comércio nos estados, enquanto Mandetta defende que as pessoas fiquem em casa.

Após essa declaração, dada na quinta-feira (2), o ministro reagiu em seguida e disse: "Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha".

Nos bastidores, Mandetta vem dizendo a aliados que não pretende pedir demissão e só sairá do cargo por decisão de Bolsonaro.

Neste domingo, por exemplo, sem citar nomes, Bolsonaro disse que integrantes de seu governo "viraram estrelas" e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter "medo de usar a caneta".

"[De] algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona", afirmou Bolsonaro.

"Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil. Não é para o meu bem. Nada pessoal meu", disse o presidente.

O presidente conversou nesta segunda (6) com a médica Nise Yamaguchi, que defende o uso de hidroxicloroquina para casos de coronavírus em estágio inicial. O nome dela passou a ser apontado no entorno de Bolsonaro como um dos possíveis para substituir Mandetta caso ele seja demitido.

A médica foi apresentada a Bolsonaro por integrantes da ala olavista do governo. Pessoas próximas ao presidente que ajudaram a articular o encontro com a médica, porém, afirmam que Bolsonaro não bateu o martelo sobre a saída do ministro.

Apesar disso, seus auxiliares já buscam um plano B, caso o presidente decida consolidar a demissão.

Outro nome que conta com a simpatia de Bolsonaro é o do cardiologista Otávio Berwanger. Ele esteve com o presidente na semana passada em reunião com médicos no Palácio do Planalto.

O chefe do Executivo tem se incomodado com a demora do Ministério da Saúde em apresentar um protocolo claro para o uso da hidroxicloroquina. Bolsonaro também se queixa da falta de um plano detalhado para o combate ao vírus e retorno de atividades nos estados.​

Apesar das divergências, ministros da ala militar trabalham para que Bolsonaro não demita o auxiliar e busque aparar as arestas no confronto.

A possibilidade de que ex-ministro Osmar Terra venha a ocupar o lugar de Mandetta no Ministério da Saúde já levou a direção nacional do MDB a tomar providências.

Em reunião virtual na tarde desta segunda-feira (6), os líderes do partido na Câmara, Baleia Rossi (SP) e no Senado, Eduardo Braga (AM), decidiram, juntamente com os demais integrantes do partido, que Terra, que é deputado federal (RS), perderá suas funções partidárias caso assuma o Ministério.

“Nós, do MDB, não vamos aceitar o Ministério da Saúde porque não somos contrários à política de isolamento", afirma Braga.

Além de Mandetta, outros ministros têm discordado de Bolsonaro nessa crise. Conforme a Folha mostrou, Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) uniram-se nos bastidores no apoio ao colega da Saúde e na defesa da manutenção das medidas de distanciamento social e isolamento da população.

O trio formou uma espécie de bloco antagônico, com o apoio de setores militares, criando um movimento oposto ao comportamento do presidente.

Segundo pesquisa Datafolha realizada na semana passada, a aprovação da condução da crise do coronavírus pelo Ministério da Saúde disparou e já é mais do que o dobro da registrada por Bolsonaro. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do presidente.

Na rodada anterior, feita de 18 a 20 de março, a pasta conduzida por Mandetta tinha uma aprovação de 55%. Agora, o número saltou para 76%, enquanto a reprovação caiu de 12% para 5%. Foi de 31% para 18% o número daqueles que veem um trabalho regular da Saúde.

Já o presidente viu sua reprovação na emergência sanitária subir de 33% para 39%, crescimento no limite da margem de erro. A aprovação segue estável (33% ante 35%), assim como a avaliação regular (26% para 25%).​

A relação entre o ministro e Bolsonaro vem numa escalada de tensão e subiu no final de março, quando o presidente resolveu dar um passeio pela periferia de Brasília, contrariando todas as orientações do Ministério da Saúde. O giro de Bolsonaro ocorreu um dia após Mandetta ter reforçado a importância do distanciamento social à população nesta etapa da pandemia do coronavírus.

Neste domingo, Bolsonaro, que já demitiu quatro ministros (Gustavo Bebianno, Ricardo Vélez, Santos Cruz e Osmar Terra) e deslocou outros três (Floriano Peixoto, Gustavo Canuto e Onyx Lorenzoni) desde que assumiu o poder, em 2019, disse ter errado na escolha de alguns deles.

"Escolhi, critério técnico, errei alguns, alguns já foram embora. Estamos vivendo agora um novo momento. Uma crise, chegou no mundo todo, não deixou o Brasil de fora. O outro problema que vivemos é a questão do desemprego", disse Bolsonaro.

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